Vinyl Maniac é um blog independente dedicado à cultura em suas formas mais atemporais — com foco especial em discos de vinil brasileiros, artistas esquecidos pela mídia, e resenhas autorais de música, literatura e cinema.
Aqui, a curadoria fala mais alto que o algoritmo.
Desde 2009, o blog oferece uma discografia comentada de LPs raros, compactos e relíquias sonoras, agora expandindo também para reflexões culturais, críticas de livros, filmes e movimentos artísticos.
Outro discaço do clarinetista Wanderley Taffo, aqui grafado como Syles, o seu primeiro LP. A bolacha contém uma impressionante riqueza de detalhes nos arranjos de Syles, nas primorosas atuações de todos os músicos, com destaques óbvios para o acordeon do surpreendente Wanderley Rizzoto, para o cavaquinho esperto do Mestre Esmê e para a impressionante guitarra de Poly, principalmente para aqueles que só o conhecem tocando guitarra havaiana. Mas, além dos citados, temos Azeitona no baixo (que uma década depois formaria no Milton Banana Trio) e do baterista Zequinha que também aparece na percussão. Todos eles músicos que atuavam em São Paulo.
Em faixas como Once a while, ou Harlem Noturno, o resultado é espetacular e o sexteto "swinga" como um verdadeiro combo de jazz. Mas seria injustiça com as outras faixas fazermos apologia apenas para estas duas, bem como seria leviandade afirmar que Syles calcou seu estilo no Benny Goodman Sextet. Inclusive porque sua sonoridade, suave, usando a clave mais grave, se assemelha mais ao clarinete de Barney Bigard. Elocubrações...
A música Minha saudade encontra aqui sua segunda gravação (a primeira está no disco de Luiz Bonfá - Continental LPP 21, de 1955) ambas, curiosamente, anteriores a gravação do próprio Donato. Neste dez polegadas, sua autoria está creditada a um tal Juan Donato (sic) e até desconfio da razão que levou Syles a desfrutar da prioridade de gravá-la em segunda mão. Donato formou no conjunto de Altamiro Carrilho que tinha Duílio Cosenza (o compositor da faixa Baiãozinho) como cavaquinista. Duílio deve tê-la ouvido e levado para Syles que, percebendo o potencial da música, não hesitou em gravá-la. São apenas suposições, mas não custa imaginar que o próprio Duílio toque cavaquinho na música de sua autoria, substituindo Esmeraldino Sales. E por que não o próprio Donato tocando acordeon na sua Minha saudade? A culpa é da Polydor, que assim como a maioria das gravadoras, fazia questão de nos deixar absolutamente às escuras com relação aos músicos que tocavam em seus discos, na minha opinião, um verdadeiro desrespeito com a memória musical do país! Os créditos para os músicos foram pinçados aqui, os outros foram deduzidos por leituras diversas. Qualquer observação à respeito agradeço muito. Escutemos, então, Brejeirice, mais um soberbo disco do soberbo Wanderley Taffo, ou Siles, ou Syles...
Aproveitem!
1. Baiãozinho (Duílio Cosenza)
2. Harlem Noturno ( Rogers / Hagen)
3. Copacabana (Alberto Ribeiro / Braguinha)
4. Once In a While (Green / Livingstone / Edwards)
"Apesar dos esforços do produtor J.C.Botezelli (Pelão), o mesmo realizador do lp de Cartola, este disco não pode sair em vida de seu homenageado. Ernesto Joaquim Maria dos Santos, nascido no Rio de Janeiro a 5 de abril de 1891, faleceu aos 83 anos, em 25 de agosto de 1974, quando o disco em sua homenagem estava em fase final de montagem. Falar da importância deste album-documento é dispensável. Donga, está ao lado de Pixinguinha e Sinhô, entre os mais importantes pioneiros da MPB, autor do primeiro Samba (registrado com este nome), o famoso "Pelo Telefone".
Na produção deste elepê, Pelão teve como consultores Ligia Santos, filha de Donga e Mozart de Araujo, conseguindo realizar um precioso documentário, com a participação de vários intérpretes, além do próprio Donga - inclusive com um trecho do depoimento que prestou ao MIS-GB, há alguns anos. Desfilam neste álbum as seguintes músicas, que revelam m pouco da grandeza música do admirável pioneiro: "Amigo do Povo", "Canção das Infelizes" (parceria com Luiz Peixoto, interpretação de Elizeth Cardoso), "Benedito no Choro", "Patrão prenda seu gado" (parceria com Pixinguinha e João da Baiana, na voz de Almirante), "Vertigem", "Seu Mané Luiz" (parceria com Baiano, interpretação de Leci Brandão e Marçal), "Cinco de Julho", "Ranchinho Desfeito" (parceria com De Castro e Souza, na voz do modinheiro Paulo Tapajós), "Ligia, teus olhos dizem tudo", "Pelo Telefone" (letra de Mauro de Almeida, na voz de Almirante), "Quando uma estrela sorri" (parceria com Villa Lobos e David Nasser, na voz de Gisa Nogueira).
Um elepê fundamental para a história da MPB é este "A Música de Donga", gravado nos dias 21 a 26 de agosto de 1974, com arranjos e regências do maestro Horondino José da Silva (do grupo Época de Ouro) e também Altamiro Carrilho, para a faixa "Ranchinho desfeito".
O texto acima é do grande jornalista Aramis Millarch, publicado originalmente no jornal Estado do Paraná, em 23/02/1975. O projeto de reprodução dos artigos escritos por Aramis é tocado por seu filho Francisco Millarch, por quem tenho grande apreço e admiração, e de quem, um belo dia, tive a ousadia de tentar comprar o acervo musical do velho Aramis. Fez muito bem em não ceder à tentação Francisco, parabéns pelo belíssimo trabalho de recuperação dos artigos do "velho"! O link está aqui
Foi difícil, creio que para qualquer pessoa, escolher um disco significativo para homenagear o Dia do Samba, Este LP, de um dos "pais" do samba me pareceu adequado, não costumo vê-lo publicado em outros blogs.
A ficha técnica é das mais animadoras e o conteúdo ainda melhor! Elizeth Cardoso, Leci Brandão, Almirante, Paulo Tapajós e Gisa Nogueira dão o ar da graça, acompanhados por ninguém menos que Dino 7 Cordas (violao 7 cordas e arranjos); Meira (violao); Canhoto (cavaquinho); Joel Nascimento (bandolim); Altamiro Carrilho (flautas e arranjos); Abel Ferreira (clarinete, sax); Luiz Paulo da Silva (bombardino); mestres Marcal, Elizeu e Jorginho (percussão). Timaço!
ps: Sabe por que o Dia Nacional do Samba cai em dois de dezembro? Não, não é a data de nascimento de Tia Ciata. Também não é quando gravaram "Pelo Telefone". Muito menos quando Ismael Silva e os bambas do Estácio fundaram a Deixa Falar. O Dia Nacional do Samba surgiu por iniciativa de um vereador baiano, Luis Monteiro da Costa, para homenagear Ary Barroso. Ary já tinha composto seu sucesso "Na Baixa do Sapateiro", mas nunca havia posto os pés na Bahia. Esta foi a data que ele visitou Salvador pela primeira vez. Engraçado, não? A festa foi se espalhando pelo Brasil e virou uma comemoração nacional. Atualmente duas cidades costumam comemorar o Dia do Samba, Salvador e Rio de Janeiro. (Paulo Eduardo Neves no seu impagável Samba-Choro)
Aproveitem!
1. Amigo do Povo
(Donga)
2. Canção dos Infelizes
(Donga / Luis Peixoto)
Intérprete(s): Elizeth Cardoso
3. Benedito no Choro
(Donga)
4. Patrão Prenda Seu Gado
(Pixinguinha / Donga / João da Bahiana)
Intérprete(s): Almirante