Vinyl Maniac é um blog independente dedicado à cultura em suas formas mais atemporais — com foco especial em discos de vinil brasileiros, artistas esquecidos pela mídia, e resenhas autorais de música, literatura e cinema.
Aqui, a curadoria fala mais alto que o algoritmo.
Desde 2009, o blog oferece uma discografia comentada de LPs raros, compactos e relíquias sonoras, agora expandindo também para reflexões culturais, críticas de livros, filmes e movimentos artísticos.
Há muito queria postar algo sobre Abel Ferreira. Achei várias coisas em outros blogs menos este disco, por enquanto. Então vamos lá: é o seu terceiro LP gravado. O primeiro, em 1957, para a etiqueta Todamérica, foi um dez polegadas contendo algumas de suas composições, como os clássicos Acariciando e Luar de Caxambu. O disco foi relançado em 1978, pela RGE, como "Abel Ferreira e seu conjunto" e conta com a participação da cantora Vânia Ferreira, sua filha. No segundo, já na gravadora Copacabana (Jantar Dançante No 1, 1958) mais um punhado de canções compostas por Abel. Fiquei curioso e resolvi colocar este aqui que não conta com nenhuma composição do mestre. Vamos vê-lo mais solto, não muito "amarrado" ao estilo do choro, embora o repertório seja praticamente o mesmo que encontraremos em qualquer disco daquela época. Foxes, boleros, baiões e...sambas. O lado B é só samba, choro e frevo, e é muito bom. Chego ao ponto de afirmar que "No tabuleiro da baiana" encontra nãs mãos de Abel sua execução definitiva.
Os músicos, quando a gravadora nos fazia o favor de identificar, pertenciam ao "cast" da Copacabana. No piano: José Luciano; nas guitarras José Menezes e Waltel Branco; no baixo o incansável e insubstituível Jorge Marinho; no cavaquinho o mitológico Tôco Preto, nas baterias Plínio e Paulinho Magalhães e, no ritmo, Geraldo Barbosa, Mestre Marçal e Júlio Braz. "Quase" uma seleção brasileira.
Existe muita informação sobre esta verdadeira instituição musical que foi Abel Ferreira, Google nele então.
Não faria muito sentido postar o segundo LP conduzido e arranjado pelo maestro Rogério Duprat (Orquestra Fantasia), sem colocar este que é o seu primeiro disco, desta feita para o selo VS.
Aqui, Duprat "brinca" com a música dita de concerto, explorando com rara felicidade a orquestra, despindo os arranjos do vibrato, fazendo os instrumentos emitirem as notas de forma natural. Com a parte rítmica redonda, balançada, o disco surpreende pois não se trata de uma compilação qualquer. Muitos tentaram depois de Duprat fazer coisa semelhante sem obter o menor êxito na empreitada. Escutem sem medo, a bolacha é sensacional.
A lamentar, mais uma vez, a completa desinformação acerca de músicos, falha imperdoável da gravadora VS. Também não tem crédito para o autor da ridícula capa, Duprat não merecia...
Aproveitem!
1. O Guarani
(Carlos Gomes)
Abertura
2. Valsa Op 61 Nº 1 Em Lá Bemol
(Frederic Chopin)
3. Andantino da Quarta Sinfonia
(Tchaikovsky)
4. Tema de Concêrto Para Piano Op 54
(Schuman)
5. Noturno Op 9 Nº 2 Em Mi Bemol
(Frederic Chopin)
6. Prelúdio e Brinde da Traviata
(Verdi)
7. Dança Macabra
(Saens)
8. Tema do 1º Movimento da Sinfonia Quarta
(Brahms)
Tema do 1º Movimento da Sinfonia Quinta
(Ludwig Van Beethoven)
9. O Cisne
(Saens)
10. Andante Cantabile da Quinta Sinfonia
(Tchaikovsky)
Em 1962, Rogério Duprat inaugurou a sua carreira de maestro e arranjador em disco, no LP ‘Distração’, com a Orquestra Fantasia, sob sua direção. No mesmo disco, Duprat assina duas composições, as músicas ‘Hás de Convir’ e ‘Lágrimas ‘, de orientação popular, mas já meio “tortas” para a época, uma faceta pouco conhecida de sua carreira. O disco permanece inédito em CD e é um das peças mais raras da história da música brasileira.
Lançado pelo selo Penthon, o disco é uma peça arqueológica fundamental para a compreensão da história da música popular brasileira. São 12 faixas, começando com a bossa nova ‘Passeando pela Praia’, secundada por um surpreendente rock and roll. Trata-se de ‘I Hate Lies’, em inglês, composta e interpretada por Albert Pavão, acompanhado do grupo The Hits. Com o mesmo Albert Pavão, e novamente com o grupo instrumental The Hits, o disco ainda traz o cover para ‘Remember Baby’.
Em entrevista para Senhor F, publicada em edição anterior, o próprio Albert contou a história da sua participação nesse disco. “Eu saí da Mocambo no começo de 1963 e fui contratado pela VS (Som e Indústria Vilela Santos) que estava se expandindo e que chegou a contratar o melhor divulgador de discos de São Paulo, o José Richard. Tenho a impressão de que Rogério Duprat era muito amigo do Guido Bianchi, que era braço direito dos donos da VS, Ataliba Santos e Paulo Vilela”, lembra Albert.
”Quando lá cheguei, logo de início me chamaram para gravar duas músicas no LP 'Distração' com o acompanhamento do grupo The Hits. Esse LP seria lançado pelo selo Penthon, e os arranjos e a direção de orquestra seria de Rogério Duprat (chamado de Orquestra Fantasia). Foram oito músicas orquestradas, duas minhas e duas do Dave Gordon, que cantava em inglês, sendo que as do Dave com orquestra do Duprat acompanhando. Trabalhar com ele foi divertido pois ele era muito criativo, tipo cientista louco...”, afirma Albert.
As duas faixas com Dave Gordon, um cantor especializado em covers para sucessos estrangeiros, são ‘Crazy Hully Gully’ (dele) e ‘Go, Mr.Hully Gully’ (Brandford – Gordon). Nelas, como diz Albert, Gordon canta acompanhado de orquestra dirigida por Rogério Duprat, com destaque para o piano ‘boogie woogie, apesar do ritmo ‘hully gully’. A presença das duas músicas de Gordon, mais os registros de Albert Pavão, ao lado de peças orquestrais, flagram um momento da transição da música popular daquele momento nacional e, mesmo, mundial.
Outra curiosidade do disco é a inclusão de duas músicas “populares” de autoria de Duprat, que talvez sejam as suas primeiras composições no gênero. Tanto ‘Hás de Convir’, um meio-bolero, quanto ‘Lágrimas’ com uma levada de samba, apresentam uma sonoridade extremamente moderna para a sua época. O arranjo de ‘Lágrimas’ começa com um som que, salvo engano, é a primeira (ainda tímida) manifestação de um “piano preparado” na música brasileira. Naquele mesmo ano, Duprat havia participado de um curso na Alemanha, onde dividira aulas com discípulos de John Cage, entre elas Frank Zappa.
Na contra-capa do disco, o texto apresenta a Orquestra Fantasia como destaque dos “mais famosos centros de diversão noturna”, resultado de um vitorioso “segundo lugar no Festival de Positos de danças populares”. Outro detalhe importante presente na contra-capa é o anúncio antecipado, “para breve”, do disco ‘Clássicos em Bossa Nova’, em que “a Orquestra de Rudá reviverá, em cada faixa, um dos gênios da música de todos os tempos”. “O segundo LP da Penthon, o ‘Clássicos em Bossa Nova’, com arranjos do Rogério Duprat, é hoje pouco conhecido, mas antológico”, completa Albert Pavão. Na época, Duprat assinava Rudá (nome de seu filho) para não ser “cúmplice” do rock.
Texto extraído do site Senhor F, do amigo e jornalista Fernando Rosa, cujo link está aí ao lado na lista de blogs. Obrigado Fernando!
Aproveitem!
1. Passeando pela praia
(Nelson Luiz/Valéria Luercy)
O Trio Boliche na verdade não é um trio. Foi um projeto desenvolvido pelo extraordinário Théo de Barros (que toca violão e baixo neste disco) e do "underrated" e obscuro organista Renato Mendes, o homem que introduziu o Moog no Brasil, vou postar mais discos do Renato aqui. Mas é em torno dos dois que gira o Trio Boliche com o luxuoso acompanhamento do "superb" baterista paulista Arrudinha.
Outros músicos que participam do ótimo disco estão listados nas notas da contracapa que reproduzo integralmente.
"A parte mais difícil em todo o trabalho de produção de um LP é - indiscutivelmente a contra-capa.
Quando se quer explicar de verdade o que são, quem são e como são os intérpretes do disco e o que é o LP; quando se quer expressar em poucas palavras e em pouco papel, toda a emoção que o "tape" gravado nos transmitiu, aí sim é que fica difícil escrever a contra-capa. Pode-se escrever direito por linhas tortas mas não se pode falar direito por palavras esquerdas. A tarefa ficaria simples demais se a gente abrisse o dicionário e procurasse uma série de adjetivos bombásticos e coloridos para preencher com os mesmos essas cinquenta linhas. Mas a boa contra-capa não pode ser apenas uma sucessão de chavões pouco convincentes e que já conhecemos de cor.
Então resolvemos conversar com o RENATO MENDES e com o THÉO, dois dos integrantes do BOLICHE TRIO, recém-nascido. Dele participam oito artistas.
É deles a palavra. É o BOLICHE TRIO quem fala:
RENATO - O BOLICHE TRIO nasceu para a juventude. Só gravaremos música popular brasileira. E só aquela que a gente achar boa mesmo. Queremos acabar com a comercialização da música.
THÉO - Faremos do BOLICHE TRIO o porta-voz da juventude do Brasil e do "movimento" de depuração da Bossa Nova. Veja, antes estávamos todos juntos. Queríamos fazer "arte pela arte", mas, interesses diferentes dispersaram os velhos amigos. Agora, com novos companheiros, tão bons quanto os primeiros, tentaremos fazer música verdadeira, despreendidos de todo fim material ou comercial.
RENATO - De nosso Trio participam , neste disco, Heitor, Arrudinha e Carlinhos na bateria, e Chú, Mathias, Nilson e Capacete ao contrabaixo. O Théo, contudo, é responsável por quase todas as faixas em que entra o baixo, e eu, eu sou o "dono" do órgão. Na faixa "Sonho de um Carnaval" - que está linda! - o solo é defendido por Paulo Queiroz, grande companheiro, recentemente desaparecido.
Bem, os rapazes já disseram tudo., Ah, não. O RENATO ainda quer acrescentar: - "Não se esqueça de dizer que o Benê, o flautista Benê, é o compositor formidável de "Plenitude" e de "Mais ou Mendes" (esta, modéstia à parte, dedicada a mim)."
Agora, acabou mesmo. Mas, cremos ser razoável e justo falar um pouco só de RENATO e do THÉO, homenagem que lhes cabe por direito de conquista e pelo inato talento.
RENATO MENDES é organista de formação clássica. Porém, foi na música popular brasileira que teve a chance de expressar todo o seu ecletismo e impressionante técnica. Já gravou um LP para a Chantecler mas é com o BOLICHE TRIO que consegue realmente completar-se, graças ao excepcional apoio rítmico do THÉO e dos demais. O bom Renato, entre outros, possui o mérito de orientar jovens que querem fazer música.
THÉO é o músico e compositor de 1a. linha. Quem não se lembra do "Menino das Laranjas", "Vim de Sant´Ana" e do "Cantador"? O rapaz faz a música que a gente, quando ouve, gostaria de ter feito. Como instrumentista, THÉO é considerado um dos melhores violonistas e baixistas do Brasil, dono de muita verve e de conhecimentos técnicos.
Depois disso tudo, o melhor a fazer é ouvi-los. Ou será que voces ainda não estão ansiosos por fazê-lo?
Ouvir o BOLICHE TRIO é estar "de bem" com a música popular moderna brasileira"
VILMA REICHFELD - "A GAZETA"
Algúem reclamou do fato de "todos" os blogueiros fazerem o upload dos discos para o Rapidshare, então resolvi utilizar o MediaFire desta vez, vamos ver o resultado.