Vinyl Maniac é um blog independente dedicado à cultura em suas formas mais atemporais — com foco especial em discos de vinil brasileiros, artistas esquecidos pela mídia, e resenhas autorais de música, literatura e cinema.
Aqui, a curadoria fala mais alto que o algoritmo.
Desde 2009, o blog oferece uma discografia comentada de LPs raros, compactos e relíquias sonoras, agora expandindo também para reflexões culturais, críticas de livros, filmes e movimentos artísticos.
A admiração do sensacional saxofonista Jayme Araújo (irmão do mestre Severino Araújo) pelo não menos sensacional saxofonista ingles Freddy Gardner era tão grande que ele, ainda muito novo, passou a adotar, em 1955, o pseudônimo de Teddy Garner, tocando como solista das mais famosas orquestras de danças do Brasil. Um belo dia a Columbia o convidou para gravar as músicas que ele mais admirava do "mestre" e confiou os arranjos e a batuta ao não menos notável maestro Lyrio Panicali. O resultado é primoroso e Jayme nos mostra toda a sua categoria tocando "standards" como somente um jazzista poderia fazê-lo.
1. Invitation
(B. Kaper)
2. Body And Soul
(Heyman / Sour / Green)
3. Harlem Nocturne
(Hagen)
4. These Foolish Things
(Strachey)
5. Look For a Star
(M. Antony)
6. I Only Have Eyes For You
(Dubin / Warren)
7. An Affair To Remember
(H. Warren / H. Adamson / L. McCarey)
8. I'm In The Mood For Love
(Fields / McHugh)
9. Love Is a Many-splendored Thing
(Paul Francis Webster / S. Fain)
Seu verdadeiro nome é Francisco Ferraz Netto, mas devido a seu modo jovial de encarar a vida, sempre sorrindo, recebeu o apelido de Risadinha. Nascido em São Paulo, onde começou sua carreira, transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1945, tornando-se um dos mais característicos defensores do samba carioca. Várias vezes campeão do Carnaval, como cantor e também como compositor, Risadinha especializou-se no chamado "samba de breque", do qual se tornou um dos melhores intérpretes, ao lado de Moreira da Silva e Jorge Veiga. Faleceu no RJ em 3/6/1976.
A orquestra do Vadico, e, principalmente, os seus arranjos são sensacionais. Vamos lá:
nas faixas Escurinha, Falsa baiana, Risoleta e Faran-fan-fan Coruja, Walter e Monteiro respondem pelos saxes; Canuto no trompete; o grande Raul de Barros no trombone; Vivi na clarineta; Menezes na guitarra; Vidal no baixo; Trinca na bateria e Mestre Bide e Sebastião na percussão.
Nas faixas Conversa de botequim e Minha palhoça temos o Meirelles na flauta; João Batista no clarinete; Maestro Chiquinho no acordeon; Capilé no trombone; Menezes na guitarra; Vidal no baixo; o extraordinário Dom Um Romão na bateria; Bide e Sebastião na percussão.
Finalmente, Jogo proibido e Se acaso voce chegasse foram gravadas com a seguinte formação: João Batista no clarinete; Walter no tenor; Laerte no trompete; Raul de Barros no trombone; Menezes na guitarra; Vidal no baixo; Sutt e Trinca dividem a bateria e, novamente, Bide e Sebastião na percussão.
Na árvore genealógica dos grandes conjuntos vocais brasileiros há dois antecessores ilustres: o Bando da Lua e os Anjos do Inferno. Os Garotos da Lua apresentam-se como os descendentes diretos dessa nobre linhagem. Neste seu único LP (sem João Gilberto que gravou com o conjunto dois 78rpm em 1951, ver nas primeiras postagens) o conjunto é integrado por Toninho Botelho, Alvinho, Acyr, Miltinho e Edgardo Luiz. Os tres primeiros, baianos, Miltinho é pernambucano e Edgardo é paulista. Nada a comentar, dissecar etc. Basta ressaltar que a faixa Recordação é a primeira composição gravada de João Donato. É ouvir e gostar muito. Sinter SLP 1072, de 1956
Lado A:
Na Baixa do Sapateiro (Ary Barroso)
Vou tentar esquecer (Edgardo Luiz)
Qui nem giló (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira)
Não diga não (Tito Madi/G.Henry)
Lado B:
Já vai (Duba/Evaldo Ruy)
Lá vem a baiana (D. Caymmi)
Recordação (João Donato/Edgardo Luiz)
Policromia brasileira (Pernambuco)
Já que falamos da possível primeira gravação de Cartola no post anterior vamos mostrar outro registro raro: o compacto duplo Mocambo 3087, data da gravação desconhecida mas provavelmente do início dos anos 60.
Aqui Cartola canta dois sambas de sua autoria (O sol nascerá e Amor proibido); um samba de Almeidinha (Bobagem) e uma samba de José Caldas e J.R. de Oliveira (Não quebre meu tamborim), acompanhado pela Escola de Samba de Almeidinha (o compositor carioca Anibal Alves de Almeida).
Estes dois albuns contendo 4 discos 78 rpm cada, com 17 faixas no total, devem constar entre os mais importantes discos brasileiros em qualquer época, porém, foram lançados apenas...nos USA! A história é relativamente mal conhecida e eu sugiro fortemente a visita a estes dois sites para melhor entende-la: o site da americana Daniella Thompson, uma quase-brasileira pelo seu amor devotado à nossa música está aqui (em português) e o site do jornalista brasileiro, de apenas 26 anos, Aloisio Milani está aqui. Repito, a leitura é fundamental pois vou me ater apenas aos comentários de Ary Vasconcelos das 17 músicas apresentadas nos albuns Columbia C-83 e C-84, lançados nos USA em 1942, sabendo-se que foram registradas mais de quarenta sessões naqueles dias 8 e 9 de agosto de 1940, à bordo do navio SS Uruguay, aportado no Rio de Janeiro. Onde foram parar as outras gravações? Leiam os sites sugeridos pois esta é uma história e tanto!
A luta pela descoberta do restante das músicas gravadas naquele período, a troca de emails com os responsáveis pelas editoras detentoras dos direitos autorais, a busca pelas fitas "masters" tentando um possivel relançamento em cds etc etc, chega a ser comovente, principalmente no caso da Daniella, por ser cidadã americana. Os comentários de Ary Vasconcellos foram pinçados do álbum lançado em 1987, ocasião do centenário do compositor, pelo Museu Villa-Lobos, numa tiragem limitadissima contendo as célebres 17 faixas, transformando-o numa peça tão rara e disputada quanto os originais da Columbia.
Vamos lá:
Macumba de Oxóssi
Está assinada por Donga e Espinguela e grafada erradamente no disco americano. Essa macumba "with vocal ensemble" como explica a mesma etiqueta, foi gravada pelo Grupo de Rae Alufá. Como se sabe, Oxóssi é o orixá dos caçadores, sendo sincretizado, no Rio de Janeiro, como São Sebastião, e como São Jorge, na Bahia. Seu símbolo é o arco e flecha, dançando com essa arma em uma das mãos e com um erukerê (uma espécie de espanador feito com rabos de boi) na outra.O Grupo do Rae Alufá era um conjunto vocal-instrumental coreográfico dirigido por Zé Espinguela e que animava as festas deste, fossem elas sagradas (macumbas) ou profanas (sessões de samba e de chula). A voz solista é do próprio Espinguela.
Macumba de Iansã
Outra macumba de Donga e Espinguela, gravada pelo mesmo grupo e com Espinguela como solista. No original está grafada assim: Macumba de Inhançan. Iansã, orixá feminino, esposa de Xangô, é sincretizada como Santa Bárbara. Dança geralmente com um alfange e um eruxim de rabo de cavalo.
Ranchinho desfeito
Uma antiga composição de Donga, letra de De Castro e Souza, ocupa a terceira faixa do nosso elepê e do primeiro álbum americano. A letra original foi bastante sacrificada, entretanto, na gravação e mesmo uma nova estrofe de David Nasser só teve seus quatro últimos versos aproveitados. Certamente por equívoco, o titulo primitivo foi substituído pelo de Samba Canção e não há qualquer referência à Souza. mencionando o selo do disco os nomes de Nasser e Donga. Omissão mais grave é a do intérprete Mauro César, pseudônimo do cantor Joel do Nascimento sobre o qual é bem clara, aliás, a influência de Orlando Silva. Nascimento cantara no Regional de Donga, tendo mesmo atuado com este no Cassino da Urca. Na época da gravação trabalhava numa tinturaria que abrira em sociedade com um amigo. Donga foi seu padrinho de casamento. Mais tarde trabalhou na Agência Nacional, transferindo-se para Brasília quando da inauguração da nova Capital. Pixinguinha, então com 42 anos, "rouba" porém o fonograma com empolgante atuação na flauta.
Caboclo do mato
"Samba with vocal ensemble" está no selo do disco. Trata-se, na realidade, de uma corima de Getúlio Marinho da Silva, o saudoso "Amor" (mencionado no selo) interpretada por João da Baiana (não mencionado). Presentes nesta faixa o pandeiro de João e a flauta de Pixinguinha. A voz feminina - que repete "din, din, din, Aruama" - é provavelmente de Janir Martins.
Seu Mané Luís
Zé da Zilda (José Gonçalves) é astro principal desta composição de Donga. Janir Martins dialoga com ele neste "samba with vocal duet". No selo não há, porém, qualquer referência à dupla, nem ao outro astro, Pixinguinha.
Bambo do bambu
Jararaca e Ratinho cantam a embolada assinada por Donga. Nesse autêntico "destrava a lingua", Ratinho, embola-se e tem a sua travada antes da hora...O violão sensacional que encerra a gravação é de Laurindo de Almeida.
Sapo no saco
Novamente Jararaca e Ratinho, agora na embolada Sapo no saco, de ambos, um clássico do gênero.Uma das raras composições deste repertório já gravadas anteriormente, Sapo no saco foi lançado em disco por Jararaca em abril de 1929.
Que quere quê
Que querê intitulava-se o disco Victor 33509-b, suplemento de janeiro de 1932, e consistia em uma macumba carnavalesca de Donga, João da Baiana e Pixinguinha, gravada por Zaira de Oliveira e Francisco Sena. O selo do disco Columbia refere-se a "K Keri KK" e sua autoria é atribuída a "Yoad Machrado Cudo J." , isto é, a maneira mais estropiada possivel de se escrever o nome verdadeiro de João da Baiana, ou seja, João Machado Guedes...Aliás, tudo indica que Que Querê seja só de João e nesse caso os americanos estariam corretos no tocante à verdadeira autoria. O solista vocal é o próprio João podendo a voz feminina ser de Janir Martins.
Zé Barbino
A peça que abre o lado "b" do elepê é um maracatu estilizado escrito a quatro mãos por Pixinguinha e Jararaca e gravado em dupla pelos próprios autores. Trata-se ainda de um dos raros fonogramas em que Pixinguinha atua como cantor.
Tocando pra você
Momento extraordinário nas sessões de gravação realizadas a bordo do navio Uruguai foi este em que Luís Americano, acompanhado de regional, executou ao clarinete o seu deslumbrante choro Tocando pra você, grafado no selo do disco como "Tocanda pra voce"...
Passarinho bateu asas
A gravação "princeps" deste samba de Donga é de Francisco Alves e foi realizada na Odeon (disco 10160-a), em 1928. No navio, coube a Zé da Zilda levar à cêra a famosa composição. Mais uma vez, destaca-se no acompanhamento a flauta de Pixinguinha.
Pelo telefone
"Zamba with vocal chorus" diz o selo do disco. Só que este "zamba" não é um samba qualquer, mas justamente o primeiro a celebrizar-se como tal, com letra assinada por Donga, letra por Mauro de Almeida - para resumir uma história complicadíssima e que provocou tantas polêmicas. Onde está escrito "vocal chorus", leia-se José Gonçalves, isto é, Zé da Zilda. Pixinguinha tem aqui nova atuação extraordinária.
Quem me vê sorrir
Outro ponto culminante dos dois álbuns Columbia: Cartola acompanhado pelo "Mangueira Chorus" (é como se encontra no disco) canta seu samba Quem me vê sorrir, letra de Carlos Cachaça (Carlos Moreira de Castro). Carlos, aliás, era para ter ido também ao navio Uruguai, mas justamente na noite da gravação teve plantão na Central do Brasil, onde trabalhava. Seu nome não consta no selo do disco. Ainda sobre o coro da Mangueira: era formado pelas pastoras Neuma, Cecéia, Nadir, Ornélia, Guiomar, Nesília e Naguinha. Participaram também da gravação vários ritmistas e o violonista e compositor Aloisio Dias, da verde-e-rosa. Este seria, possivelmente, o mais antigo registro gravado da voz de Cartola.
Teiru e Nozani-ná
Um quarteto de professores do Orfeão Villa-Lobos canta estas duas composições de Heitor Villa-Lobos: Teiru, canto fúnebre pela morte de um cacique foi recolhido por Roquete Pinto em 1912 entre os Parecis. É de 1926, sendo o segundo dos Tres Poemas Indigenas. Nazoani-ná (Ameríndio) é uma das Canções Típicas Brasileiras, de 1919. O coro do Orfeão está designado no disco por "Brazilian Indian Singers"...
Cantiga de festa
Zé Espinguela e Donga assinam mais esta corima, cantada pelo primeiro com o apoio do Grupo Rae Alufá.
Canidé Ioune
Canidé Ioune é o primeiro dos Tres Poemas Indígenas, de Villa-Lobos. Está baseado em um tema indígena recolhido pelo viajante Jean de Léry em 1553. Para interpretá-lo voltam os "Brazilian Indian Singers", isto é, os professores do Orfeão Villa-Lobos...
Outro disco excelente e raro de K-Ximbinho o Odeon MODB 3039, de 1956. Aqui ele já projetava o amálgama musical entre o choro e o jazz que o tornaria conhecido no Brasil e exterior. Com uma formação peculiar, utilizando piano, vibrafone e acordeon, K-Ximbinho, que atua como clarinetista, faz arranjos e improvisos que considero espetaculares. Embora eu não destaque nenhuma música em particular, cabe ressaltar os arranjos para os temas nacionais "Jura", "Gosto que me enrosco" e o choro de Fon-Fon "Murmurando". Tocados em andamento mais rápido, utilizando uma certa "bossa" e, claro, o ataque jazzistico, ele mantém os elementos tradicionais do choro, como o baixo dos acordes invertidos, ora realizados pelo contrabaixo, ora pelo acordeon, pelo piano ou vibrafone, o que era uma enorme "ousadia" para a época. Imenso K-Ximbinho!
Formação:
K-Ximbinho (arranjos e clarinete)
Leal Britto (piano)
Orlando Silveira (acordeon)
Scarambone (vibrafone)
Geraldo Miranda (guitarra)
Walter Rosa (sax-tenor)
Julinho Barbosa (trompete)
Trinca (bateria)
Jorge Marinho (baixo)
Jorge Viñolas (bongô)
Mario Godoy (percussão)
Lado A:
Jura (Sinhô)
Unchained Melody (Zaret e North)
Washer woman (Morales e Sunshine)
Love me or leave me (Donaldson e Kahn)
Lado B:
Gosto que me enrosco (Sinhô)
Rock around the clock (Freedman e De Knight)
I´d never forgive myself (Martin e McAvoy)
Murmurando (Fon-Fon)
Outro grande jazzista, o carioca Maurilio Santos percorreu longo caminho antes de chegar ao seu primeiro disco solo: tocou com Djalminha e Solon Gonçalves, ambos trompetistas, na orquestra do maestro Fon- Fon (vamos ter que falar desse camarada aqui, ele foi importante); com o pianista Lauro Miranda; com o maestro Gaó, juntamente com Pernambuco; e com a internacional orquestra do internacional Simon Boutmann. Depois com Zaccarias; Peruzzi; Moacyr Silva... e, depois deste disco, com os mais variados artistas que voces possam imaginar, de Wilson Simonal a Roberto Carlos, e muitos, muitos outros. Foi contratado da Rede Globo e foi, reconhecidamente, um dos nossos melhores músicos. Deve estar com 85 anos nesta data, não me consta que tenha falecido. Fica aqui nossa sincera homenagem a este notável instrumentista com o seu primeiro solo o RCA Victor BPL 23, de 1958, provavelmente, vejam bem, acompanhado pelos Os Copacabana.
Com a preciosa ajuda do Sindicato dos Músicos do Rio de Janeiro e a pedido do Ministério da Cultura, em 2001, tive a oportunidade de falar com o mestre Raul. Em Maricá (RJ), onde residia com a sua companheira e, à época, invencíveis 87 anos, ele me contou uma história curiosa que prometi divulgar algum dia e talvez seja este o momento correto.
Lembram do famoso "noventa milhões em ação, pra frente Brasil do meu coração"? ufanista hino do Brasil na Copa do Mundo de 1970 cuja autoria seria do grande compositor Miguel Gustavo? Pois é, o velho Raul estava passando pelo Centro, no Rio, e encontrou um desolado Miguel Gustavo. Perguntado sobre o que ocorria, MG disse-lhe que os militares pediram que compusesse uma daquelas músicas que somente ele sabia fazer, que mexesse com a cabeça e a alma dos brasileiros - precisávamos ganhar a Copa, seria uma forma de amenizar o sentimento do povo com a dura realidade do regime vigente. Para os mais novos, e para quem não lembra, o filme homônimo Prá Frente Brasil, do Roberto Farias, dá uma boa idéia do que escrevo - todavia, sem qualquer inspiração, MG parecia nocauteado e o tempo urgia. A gravação estava marcada para dali a dois dias e nada da música, muito menos da letra...Raul então o acalmou e, mesmo afastado do inseparável trombone, "bochechou" a melodia para o MG que ficou simplesmente maravilhado com o que ouviu. A letra já lhe veio à cabeça imediatamente e, sentados no banco de uma praça, completaram a trilha sonora que seria um dos ícones do início dos anos 70, injustamente colocada ao lado de outras baboseiras do tipo - Eu te amo meu Brasil - de autoria da indefectível dupla Dom e Ravel - e quetais. Bem, o velho Raul saiu duplamente satisfeito; primeiro por ajudar o amigo, e depois porque aquilo era realmente uma beleza, não faria mal algum ganhar uns bons trocados, vislumbrada a quantidade de vezes que a marchinha seria tocada nas rádios. Ficou combinado que Raul participaria da gravação e que o cantor Miltinho seria o intérprete oficial. No dia da gravação, todos no estúdio, o produtor entrou e anunciou a gravação da música Prá frente Brasil, autoria de... Miguel Gustavo! Raul contou-me que gravou a música com lágrimas nos olhos, porém, como também é "o máximo" em matéria de coração, perdoou o amigo MG, mas, pensando bem, deixou de faturar uma aposentadoria digna pois aquela marcha seria tocada zilhões e zilhões de vezes nas rádios. Pronto mestre, demorou mas deixo aqui o registro.
Este disco é o Copacabana CLP 11299, de 1963, Raul com Orquestra Copacabana. Um pouco diferente dos discos habituais, repletos de choros e maxixes, com um repertório "morno", mesmo assim pode-se claramente perceber a categoria deste que foi um dos nossos maiores trombonistas, particularmente nas duas faixas de sua autoria.
Lado A
1 - Rêverie (Debussy)
2 - Voltarás (Raul - Murilo Latini)
3 - O lago da esperança (Cosme Teixeira - Ivonne Rabello)
4 - Tudo de bom prá voce (Raul)
5 - Ave Maria dos namorados (Jair Amorim - Evaldo Gouveia)
6 - Sabroso Cha Cha Cha (Juvenal Sampaio)
Lado B
1 - I´m gettin sentimental over you (Washington - Bassman)
Nada a falar sobre o Meirelles (1940/2008), toda sua imensa obra musical, seja como instrumentista, compositor, arranjador, maestro e tudo o mais que ele fazia com extremo profissionalismo, pode ser facilmente encontrada na internet.
Chegamos a nos conhecer. Eu, então gerente da Ag. Cinelandia do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, comprava os meus discos com os vendedores que ficam ao lado da Biblioteca Nacional e ele era frequentador assíduo. Não lembro quem nos apresentou, creio que o Roberto Quartin, fundador do selo Forma, que também aparecia por lá. Meirelles era tímido (tinha dificuldade para falar) e era uma pessoa dócil, com muitas estórias para contar. Participei do "rachucha" organizado pelos vendedores e fregueses das barracas de discos para a compra de um novo sax. A entrega foi emocionante e me orgulho de ter participado, de alguma forma, do renascimento de um dos nossos maiores músicos. Ouvi muitas estórias contadas por ele nos bares da Lapa (Meirelles não bebia, já estava com problemas estomacais) e nos primeiros sábados de cada mes na taverna do Castrinho, na Glória, nas reuniões dos colecionadores de discos de vinil. Obrigado por tudo amigo.
Deixo como homenagem o seu disco mais raro e que poucas discografias disponibilizam. Trata-se do Battle BM 6123 "Cool Samba" - Joao and his Bossa Kings, de 1962 e anterior, portanto, aos Copa 5. Ninguém me tira da cabeça que os americanos da pequena gravadora Battle queriam induzir o comprador a imaginar que se tratava de Joao Gilberto pois este já fazia grande sucesso por lá. Meirelles no sax alto e flautas; Silvio Lopes no trompete; Antonio Oliveira no piano; Gusmão no baixo; Jayme Storino na bateria e Amaury Rodrigues na percussão.
Lambari; Carlos Alberto; Waltinho e Baurú (saxofones)
Raulzinho; Biu; Ditinho; Arlindo e Iran (trombones)
Carlos Piper; Botinão; Felpudo; Oswaldo e Broegas (trompetes)
Heraldo do Monte e o mitológico Boneca (guitarras)
Dirceu (bateria)
Capacete (contrabaixo)
Hermes; Nascimento e Zezinho (ritmistas)
Faixas
Lado A:
Nanã (Moacir Santos)
Balanço Zona Sul (Tito Madi)
Bye bye love (Felix e Boudleoux Bryant)
A hard day´s night (Lennon e McCartney)
Hava Nagula (dominio publico)
55 days at Pekin (Dimitri Tiomkin)
Lado B:
The Pink Panther theme (H. Mancini)
From Russia with love (Lionel Bart)
Consolação (Baden e Vinícius)
Aurora (Mario Lago e Roberto Roberti)
Perdido (Juan Tizol)
Like someone in love (Burke e Van Heusen)
O maestro Carlos Piper era argentino radicado no Brasil, deixou vários discos tão bons ou melhores que este aqui (considerado o melhor disco orquestrado de 1965) e faleceu no acidente com o avião da Varig no Aeroporto de Orly, em julho de 1973, onde também morreram a atriz Regina Lèclery e o cantor Agostinho dos Santos.
Ayres da Costa Pessoa, o Pernambuco, era irmão do pianista Fats Elpídio. Jazzista de primeira, possuía incontáveis dotes musicais. Tocava piano, órgão e até mesmo essas flautinhas de brinquedo que se encontram nas lojas de R$ 1,99 mas o trompete era o seu predileto. Neste disco, o primeiro à frente de uma grande orquestra e com o repertório que a Polydor escolheu, poucos se arriscariam ousar algo diferente. Pudera, composto por "standards" americanos, mambos e baiões muito em voga na época, quase nada havia mesmo a ser feito.
Todavia, Pernambuco sempre achava uma brecha para expor seu virtuosismo. Numa música como Asa Branca, por exemplo, suas improvisações são puxadas para o jazz, dando uma "entortada" na melodia causando efeito imprevisto. Aliás, as improvisações salvam o disco - os arranjos para orquestra são nada além que convencionais e o coro de vozes desconhecidas, involuntariamente, "tenta" estragar tudo - mas as faixas instrumentais são ótimas. "Conversando com o piston" vale pelo disco inteiro com Pernambuco fazendo uma homenagem a Louis Armstrong e Elza Soares. Confiram!
Polydor LPNG 4046 (1959)
Lado A:
1 - Conversando com o piston (Pernambuco)
2 - All the way (Cahn - Van Heusen)
3 - Babalú (Lecuona)
4 - Asa Branca (L Gonzaga - H Teixeira)
5 - As time goes by (Hupfeld)
6 - Sarambá (J Thomaz - Duque)
Lado B:
1 - Dorme (Pernambuco - Ricardo Galeno)
2 - An affair to remember (Adamson - Warren)
3 - Casinha pequenina (estranhamente creditada a Pernambuco, trata-se de autor ainda desconhecido)
Tinha apenas quatro anos de idade quando ouvi a música que marcou definitivamente a minha infância: "Os pobres de Paris" executada pelo clarinetista Zaccarias e pelo pianista "Fats" Elpídio num velho 78rpm do meu pai. Que me lembre, nenhuma música anteriormente tinha me causado tanto efeito quanto aquela.
O "Fats" sugere uma semelhança física com o pianista e organista americano "Fats" Waller, mas é bom deixar claro que, em termos de dimensão, seja ela física ou artística, nada ficou devendo ao seu xará. Foi, literalmente, um imenso pianista o Elpídio Pessoa, pernambucano de Pau D´Alho, mais um nordestino que contribuiu de forma efetiva para evolução de nossa música brasileira "moderna", juntamente com seu irmão, o trompetista Ayres Pessoa, conhecido como "Pernambuco".
Na minha opinião, "Fats" Elpídio e Centopéia foram os melhores pianistas que já ouvi. De Centopéia pouco poderemos falar porque praticamente não existe nenhum registro gravado, o que tenho conhecimento foi escutado mediante velhas fitas de gravadores de rôlo, mas o apelido, os comentários que ouço, confirmam que se tratava de um gênio. O crítico musical Jose Domigos Raffaelli me falou, há alguns anos, que possuia fitas gravadas com o Centopéia, estavam se esfarelando de tão velhas e bem guardadas, espero que o Rafa tenha conseguido transformar em música audível. Por estas razões, vamos ficar com "Fats", o melhor pianista e jazzista brasileiro dos anos 50/60 já que Chaim Lewak, imbatível, também na minha opinião, nasceu em Israel, e aí não vale.
Este é o seu primeiro registro solo em LP, selo Radio 0031-V, de 1955. De cara ele detona um tema que o projetaria muitos anos à frente de sua época: "Salve Ogum" do seu irmão Pernambuco e Mario Rossi. Uma música bem ao estilo de Ary Barroso ou Denis Brean, se transforma, nas mãos de Elpídio, numa grande peça afro-jazzistica, se bem me fiz entender, é sensacional!
As demais músicas: Torna Sorriento (Curtis); Chega Mais (Pernambuco e Marino Pinto); Curare (Bororó) em outra incrível versão; La Vie en Rose (Louiguy e Edith Piaf); Porque cantam os passarinhos (Peterpan e Ary Monteiro); Manhoso (Zaccarias) e Guacyra (Hekel Tavares). Achou? Compre!
Dizia Leonard Feather, o famoso crítico de jazz, em seu livro Isto é Jazz: "Toda música tem sua origem plebéia, uma vez que emerge das tradições musicais populares. Os minuetos de Haydn ou Mozart não passam de um polimento dado às rústicas danças germânicas, do mesmo modo que os scherzos de Beethoven, ou as monumentais suites dos compositores russos. A maioria das árias de Verdi filia-se aos cantos primitivos dos pescadores napolitanos. É verdade que uma sombra de indignidade sempre envolveu a música, particularmente o executante de música, porque históricamente falta ao executante a dignidade do compositor. Mas o jazz é quase que somente uma arte do executante dependendo muito mais da sua improvisação e técnica do que da composição" E o que isto significa? É óbvio que, nas palavras de Feather, isto significa que o executante de jazz é, ele próprio, o verdadeiro compositor, o que lhe confere uma condição mais "digna" de criador, considerando que jazz não é propriamente um tipo diferente de música, mas sim o modo como se toca.
Que o diga Dick Farney com seu trio aqui apresentando o velho ( e ótimo) tema "Risque", de Ary Barroso, de forma soberba, provando que, se isto ainda fosse necessário, um bom tema pode ser explorado de forma magnífica, jazzisticamente falando.
Este monumento lançado pela Prestige DLP - 2001, em 1960, gravado ao vivo no teatro Municipal do Rio de Janeiro, para uma platéia de 2.500 pessoas - idealização, supervisão e apresentação do crítico de jazz Paulo Santos - traz o seguinte:
DICK FARNEY TRIO (Dick ao piano, Xú Viana no baixo e Rubinho Barsotti na bateria): "Risque", de Ary Barroso; "Um tema em fuga", do próprio Dick e "We´ll be together again", de Fish e Laine.
K-XIMBINHO TENTETO (K-Ximbinho no clarinete, Augusto Keller no oboé, Ary Paulo na trompa, Juarez no sax-tenor, Aurino no barítono, Paulo Moura no alto, Luiz Mendes no trompete, Vidal no baixo, Paulinho Magalhães na bateria e os sensacionais ritmistas Ramon, Jorge Arenas e Rubens Bassini): "Scarlet´s Gone" - adaptação de Paulo Santos para o tema Gone with the wind, de Wrubel e Magibson; "Sophisticated Lady", de Duke Ellington e "Just Walking", do próprio K-Ximbinho.
BRAZILIAN JAZZ QUARTET (Moacyr Peixoto no piano, Casé - sobre quem muito vamos falar aqui- no sax-alto, Rubinho Barsotti na bateria e Luiz Chaves no baixo): "Not so sleepy", de Mat Mathews; "Smoke Signal", de Gigi Gryce.
ALL STARS (Cipó no sax-tenor, Paulo Moura no alto, Aurino no barítono, Wagner Naegele e Clélio Ribeiro nos trompetes, Nelsinho no trombone, Fats Elpídio - outro músico nordestino que muito comentaremos aqui - no piano, Paulinho Magalhães na bateria e Waldyr Marinho no baixo): "Tema sem nome", de Cipó.
Zé Bodega foi o mais completo sax-tenor brasileiro. Tocou e gravou com K-Ximbinho e até com Tony Bizarro num outro extremo, passando por Raul Seixas, Gil, Erasmo e muitos outros. Neste disco sensacional, onde atua como solista, se faz acompanhar pela Orquestra Tabajara do seu irmão Severino Araújo. As faixas "Água de beber" e "Quero morrer no carnaval" são primorosas, com Zé Bodega improvisando lindamente junto com a guitarra do futuro maestro Waltel Branco, em mais uma amostra do amálgama musical entre o choro (samba, no caso aqui citado) e o jazz. Eram decisões interpretativas de Zé Bodega e o mundo agradece. Continental LPP 3.183, 1961
Músicos:
Manoel Araújo, Macaxeira, José Leocádio e Armando Palla (trombones); Hamilton, Formiga, José Barreto e Geraldo Medeiros (trompetes); Cláudio de Luna (piano); Satyro de Almeida (baixo); Plínio Araújo (bateria); Waltel Branco (guitarra); Pedro "Sorongo" Santos, Rubens Bassini, Raul Marques e Jadir Teixeira (percussão) e arranjos do mestre Severino.
Faixas:
Quero morrer no carnaval ( Luis Antonio/Eurico Campos); Não sabemos (Rubens Caruso); Nem toda a água do mar (Moacyr Braga); Palhaçada (Haroldo Barbosa/Luis Reis); Sambando (Geraldo Medeiros); Agua de beber (Tom/Vinícius); Brigas nunca mais (Tom/Vinícius); Onde estava eu (Armando cavalcanti/Victor Freire); Fracasso (Nazareno de Brito/Fernando Cesar); Fiz o bobão (Haroldo Barbosa/Luis Reis); Amor de janela (Antonio Maria/Pernambuco) e Nossos momentos (Haroldo Barbosa/Luis Reis)
Falar o que sobre Severino Araújo se tudo já foi dito, escrito, comentado, debatido e dissecado? Apenas lembrar que foi mais um dos nordestinos que, de forma particularmente excepcional, contribuiu para a evolução de nossa música instrumental.
Pernambucano, de Limoeiro, Severino é irmão do tenorista Zé Bodega, do trombonista Manoel Araújo, do saxofonista Jaime Araújo e do baterista Plinio Araújo, outra família da pesada. Ao contrário da maioria dos aspirantes a músicos que serviu o Exército para poder aprender a tocar, visto que não tinham recursos para comprar seus instrumentos, Severino teve como mestre seu pai, Sazuzinha, e como influências principais os clarinetistas Benny Goodman e Artie Shaw. Quando serviu o Exército foi como músico de 1a Classe, óbvio. É impressionante imaginar que aos 19 anos tenha composto Espinha de Bacalhau, uma das músicas mais difíceis de ser executada, genial Severino Araújo!
Mas, difícil mesmo foi escolher o disco mais representativo, fiquei então com este monumento lançado pela Continental em 1960, o LPP -3093 Todas as músicas são do mestre, apenas "Mirando-te" foi composta em parceria com Aldo Cabral.
Faixas: Um chorinho prá voce; Um chorinho em Aldeia; Um chorinho em Montevidéu; Puladinho; Oh clarinete gostoso!; Um chorinho em Pinhal; Um chorinho delicioso; Mirando-te; Pensando em voce; Espinha de bacalhau; Um chorinho para clarinete; Um chorinho em Cabo Frio.
Outro grande disco de K-Ximbinho, embora musicalmente menos importante que o anterior, com Zé Bodega, Cipó, Astor, Jorginho e mais uma constelação de craques, além de um "aspirante" a cantor que desconheço. Os arranjos de K-Ximbinho para os naipes de madeiras e metais são "matadores", inspiradissimos e, para variar, com a mesma facilidade que tinha para transitar do choro para jazz, percorria o caminho inverso, deixando-nos com a sensação que a música que ouvimos não tem pátria, bem apropriado, portanto. Os destaques negativos são as duas faixas cantadas, o resto é muito bom. Polydor LPNG 4048 - 1959
As faixas:
Lado A: Deixa por minha conta (Cipó); De corazon a corazon (Ruiz/Mendes); Exaltação a Mangueira ( Enéas Brites/Aloisio Costa); Eu quero é sossego (K-Ximbinho); I´ve got you under my skin (em versão cantada - Cole Porter); Carioca 1954 (Ismael Netto)
Lado B: Convite ao samba (Gaúcho/Inaldo Villarin); Em meus braços (Almeida Rego/ Irany de Oliveira); Mistura Fina (Luis Bandeira); The song is you (versão cantada - Kern/Hemmerstein); Chega de Saudade (Tom/Vinicius) e A woman in love (Frank Loesser).
O conjunto Os Copacabana se modificou em 1958. Do velho conjunto fundado em 1947 restaram o tenorista Quincas e o pianista Vadico. Jorginho, no sax-alto; Mozart, no trompete; Astor no trombone; Sebastião Marinho no baixo; Julinho na bateria e Gilberto, no pandeiro, são os novos componentes. A voz em Falsa Baiana (Geraldo Pereira) e Ai que saudades da Amélia (Ataulfo Alves e Mário Lago) é do então iniciante cantor Pedrinho Rodrigues.
Destaques para as sensacionais versões de Night and Day (Cole Porter), Cherokee (Noble), Só pode ser voce (Noel Rosa e Vadico) e a belissima Paisagem (Astor Silva), mas o disco é excelente e as outras faixas são: A mulher do Bode (Osvaldo de Meneses); Vamos fazer um samba? (Astor Silva); Feierabend (Rixner); Melancholy Rhapsody (Cahn); Singapura ( Quincas) e Atraente (Chiquinha Gonzaga). Discaço com arranjos à la Duke Ellington de Vadico, Astor e Quincas. Odeon MOFB 3024 - 1958
Outro conjunto sensacional formado em 1947 ano em que o presidente Dutra, dentre outros atos arbitrários, fechou a Confederação Geral dos Trabalhadores e os cassinos no Brasil. Dois dos seus integrantes, Quincas e Kuntz Naegele, atuavam na orquestra que se apresentava na boite "Meia Noite" no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Com o fechamento dos grandes espaços e sem poder atuar, idealizaram um grupo orquestral, cuja forma de instrumentação soasse como uma grande orquestra, permitindo ao mesmo tempo atuar em pequenos ambientes. Estavam, sem saber, dando a senha para outros grupos que futuramente atuariam em espaços mínimos como as boites do Beco das Garrafas quando surgiu a bossa-nova. Histórico e imperdível!
Formação: Quincas (sax-tenor); Kuntz (clarinete); Wagner (irmão do Kuntz no trompete); Dálgio (também irmão no trombone); Vadico (piano); Waldir Marinho (baixo); Sut (bateria) e Guará (pandeiro).
Faixas:
A - Está chegando a hora (Henricão e Rubens Campos); Choro No 3 (Dimas Gomes); Chorinho de Gafieira (Astor Silva) e Sonâmbulo (Edison Marinho)
B- A little more of your Amor (Nicholas Brodszky e Leo Robin); Baseado (Kuntz e Edison Marinho); Jura (Zé da Zilda) e Se acaso voce chegasse (Lupiscinio e Felisberto Martins)
Sebastião de Barros ganhou o apelido de K-Ximbinho no tempo em que servia o Exército e se apresentava sempre com o sax-alto. Mas o seu imenso talento não se restringia apenas ao sax, foi clarinetista, arranjador e, principalmente, um grande compositor. O choro e o jazz lhe eram extremamente familiares e a junção dos dois estilos sua marca registrada.
É notável a facilidade que os músicos nordestinos tinham para assimilar o jazz (falei disto numa postagem logo abaixo) e explico: o Brasil, durante a Segunda Guerra Mundial, cedeu importantes bases para os americanos que tremiam de medo que o marechal alemão Von Rommel, então sediado na África, atravessasse o Atlantico e os atacasse subindo pelo Brasil. Delírios à parte, o fato é que, Getúlio, em troca de quinquilharia, praticamente cedeu, dentre outras, a cidade de Natal para os americanos. Com o objetivo de "animar" as tropas, vinham diversas orquestras de jazz se apresentar no Brasil. K-Ximbinho não é exceção. Nascido no interior do RN foi cedo para a capital e lá travou contato com o jazz que o acompanharia até a sua morte, em 1980.
Neste belissimo disco, ele se faz acompanhar por Walter Gonçalves no piano; Vidal no contrabaixo; Hugo Tagnin na bateria e o superb Nestor Campos na guitarra. Choro e jazz em todas as suas vertentes com destaque para seu "Teleguiado", uma pequena obra-prima do Nestor Campos chamada "Zezinho teimoso" e os clássicos "An affair to remember" e uma versão de "I´ve got you under my skin" (com o clarinete e a guitarra de Nestor tocando em uníssono) que faria qualquer jazzista estrangeiro corar de vergonha, recomendadíssimo! Polydor LPNG 4015, de 1958 assim como os dois primeiros volumes.
Na capa os artistas Waldir Ribeiro, Mercedes Baptista e as Irmãs Marinho em foto de José Medeiros cedida pela revista "O Cruzeiro". Nos Requebros do Samba foi a primeira compilação de discos 78 rpm feita em LP por uma gravadora no Brasil, no caso a Copacabana, em 1960. O mérito deste disco, além do musical, claro, é histórico.
As faixas:
O apito no samba (de Luiz Bandeira) com Moacyr Silva e Conjunto (leia-se Chaim Lewak no piano; Jorge Marinho no baixo e Paulinho Magalhães na bateria);
Samba de Morro (de Altamiro Carrilho) com a Altamiro Carrilho e seu conjunto;
Prá fazer nosso samba (de Vicente Paiva) com Waldir Calmon;
Lamento do Morro (de Sivuca) com Sivuca e seu Conjunto;
Samba do Teleco-Teco (de João Roberto Kelly) com Abel Ferreira;
Samba de Orfeu (de Bonfá e Antonio Maria) com Edú da Gaita;
Samba no Arpège (de Waldir Calmon e Luiz Bandeira) com Waldir Calmon;
Convite ao Samba (de Inaldo Vilarin e Gaúcho) com Moacyr Silva e seu Conjunto;
Samba Fantástico (de Zezinho-Leonidas Autuori-Jean Manzon e Paulo Mendes Campos, é isto mesmo!) com Sylvio Mazzucca;
Viva meu samba (de Billy Blanco) com Aloísio e seu Conjunto;
Sal e Pimenta (de Nazareno de Brito e Newton Ramalho) com Moacyr Silva e seu conjunto ;e
Violão em Samba (de José Menezes) com Sivuca e seu Conjunto.
Todos estes temas estarão em vários discos dos mais diversos artistas até meados da década de 60.
1. Se Alguém Disse
(Newton Teixeira / Arnô Canegal / Arnaldo Paes)
2. Dengoso
(Guio de Morais)
3. Baião Atrevido
(Lindolfo Gaya)
4. Minha Saudade
(João Donato)
5. Dorinha Meu Amor
(J. F. Freitas)
6. Passarinho da Noite
(Nestor Campos)
7. Faceira
(Ary Barroso)
8. Saxologia
(Vadico)
9. Conceição
(Jair Amorim / Dunga)
10. Silk Stop
(Donato)
11. Ouça
(Maysa)
A orquestra de Paulo Moura está assim constituída:
Paulo - clarinete e sax-alto; Pedro Luiz e Euclides (sax-alto); Gustavo e Julinho (sax-tenor); Januário (sax-barítono); Norato, Waldemar Moura (irmão do Paulo) e Antonio Bogado (trombones); Darcy, Barriquinha, Ary Magalhães e Paulo Afonso (trompetes); Edison Machado (bateria); Vadico (piano); Bernard (guitarra); Luiz Marinho (baixo) e "Perez Prado" (pandeiro).
A orquestra apresenta algumas alterações: Nestor Campos (guitarra) substitui Bernard em alguns números; Astor é o trombonista em Silk Stop; Mozart ataca de trompete em Saxologia e Clélio faz o solo no trompete em Por causa de voce. Arranjos de Paulo Moura, Astor, Guio de Morais, Gaia, Vadico e Nestor Campos. As músicas Dengoso, Baião Atrevido e Saxologia encontram aqui a sua primeira gravação. Sensacional!
Nestor Campos foi um dos melhores guitarristas que o Brasil...esqueceu. Os EUA e a Europa, mais espertos, o convocaram imediatamente para compor e gravar importantes discos pelas bandas de lá. Este é o seu segundo disco para o selo Musidisc Hi-Fi 2, em 1957. Não tem erro, é ouvir e gostar muito: com Sivuca no acordeon, K-Ximbinho no clarone, Chuca-Chuca no vibrafone, Zequinha Marinho no piano, Vidal no baixo e Paulinho Magalhães na bateria o "disquinho" de dez polegadas traz preciosidades como Corcovado (Steve Bernard e Nazareno de Brito); Mulher de Malandro (Heitor dos Prazeres); alguns temas bem jazzistícos como If you can dream e Too close to comfort e duas maravilhas compostas pelo próprio Nestor: Passarinho da noite e Ternura, outro disco imperdível!
Antonio Rogelio Robledo era pai do nosso querido baixista Lito Robledo. Nascido em Córdoba ("hermano", portanto), veio para o Brasil em 1944 e aqui se estabeleceu. Pianista e compositor extraordinário gravou vários discos com formações as mais diversas. Destaco particularmente o seu primeiro LP, o dez polegadas Columbia LPCB 35005, de 1955. Com Carlos Pés (italiano também radicado no Brasil) na guitarra, Toninho Pinheiro na bateria, Odilon na percussão e Caco Velho no baixo e percussão, Robledo nos legou um discaço.
A faixa "Angela", composta em homenagem a sua mulher, antecipa em 15 anos o que Egberto Gismonti e Hermeto Paschoal fariam ou gostariam de ter feito, é sensacional. Mas tem mais: Não diga não; Three coins in the fountain; Love for sale; Stranger in Paradise; Sinceridad; Hey there e Samba no Perroquet completam a seleção. Se cruzarem com ele, comprem, é imperdivel.