Copacabana CLP 11166 - 1960
Comecei a escrever sobre músicos brasileiros que, indignadamente, julgava não existir razão para serem atirados ao limbo, lá atrás, em 1999, para ser mais preciso. Tinha um site chamado "Tesouro Musical" que era abastecido pela minha coleção e pela inestimável contribuição dos sempre amigos: Sérgio Ximenes, um dos maiores colecionadores de discos do Brasil,o já conhecido pelos amigos do blog Niromar Fernandes, extraordinário violonista, e o meu caro e saudoso Caetano Rodrigues. Também tive a ajuda do Sindicato dos Músicos do Rio de Janeiro, que me abriu as portas para vários músicos e cheguei a levar o projeto de escrever um livro sobre o assunto ao Ministério da Cultura, obviamente em vão. Sem apoio financeiro para fazer pesquisas, viagens, etc, etc a coisa ficou inviável.
Em 2001 registrei o site "Batutas". Mal poderia supor que, anos depois, o gigante UOL usaria este nome para designar a rádio que até hoje "toca no seu dial"...
Vida que segue, viagens para lá, exterior, mudanças radicais e, na volta, resolvi continuar.
Surgiu, então, em 2003, o Vinyl Maniac, que antes era um site comum e depois virou um blog, coisa que nem sonhavamos existir. As mudanças visuais foram acontecendo ao longo dos anos e me arrependo por não ter salvado os modelos anteriores, cujos comentários eram, imensa maioria, muito melhores que os posts.
Mas por que escrevo tudo isto? Porque pretendo mostrar a dificuldade que encontramos aqui para salvaguardar a memória dos nossos músicos, coisas do desmiolado e desmemoriado Brasil.
Ok, aí em cima tem um disco de um dos meus pianistas prediletos, e agora conto a minha saga para fazer esta postagem.
Quem foi Abraham Chaim Levack (Caim em portugues e Hayme em ingles)? Como chegou ao Brasil, como, em pouco tempo, se tranformou num dos mais importantes músicos atuando em território nacional? Perguntas sem respostas.
Sabia que, após reconhecidas performances em diversas casas noturnas, dentre elas a Vogue, Copacabana Palace, gravações memoráveis com Moacyr Silva, participação brilhante no disco Coisas do Moacir Santos, ser o pianista exclusivo da Radio Nacional, Chaim tinha ido para os USA, mas e aí?
Aí, em 2001, apelei para a Daniella Thompson que colocou a minha pergunta "onde anda Chaim Levack?" na lista chamada LatinJazz da qual era moderadora. Enquanto aguardava alguma resposta, numa tarde qualquer, estava ouvindo um disco do cantor americano Jackson Browne e percebi que o baterista chamava-se Mauricio Levack.
Muita coincidencia e mandei um email para o site do cantor perguntando se havia algum parentesco com o Chaim. A resposta foi: sim, era seu filho!
Opa, estava aberto o caminho. Mas nada do Mauricio me responder sobre seu pai. A Daniella, então, executou um papel fundamental: descobriu o email do Jose Marino (Zelão) baixista do Walter Wanderlei que morava nos USA e, ainda mais, o email da cantora cubana Candy Sosa que atuou com Chaim na melhor casa noturna de Los Angeles (La Macia) onde ele tocou esplendidamente, acompanhando artistas do naipe de Vic Damone, Diane Carroll, Celia Cruz, além dos conjuntos de Sérgio Mendes e Tito Puente. La Macia era a única casa noturna na cidade onde se podia ouvir música latina, coisa que Chaim adorava.
Nascido em Israel, aprendeu a tocar piano com sua mãe, atuou no Moulin Rouge, peregrinou pelo mundo e veio para o Brasil em 1955; falava fluentemente hebreu, portugues, frances, alemão, ingles e espanhol. Era um tremendo glutão e adorava jogar poquer. Tocou no já citado disco do Moacir Santos, no disco Os Cobras, em praticamente todos os discos do Moacyr Silva (também como Bob Fleming), no fantástico Quarteto Nostalgia e em todos os discos do Paulinho (baterista) e seus Night Boys. Nos USA, gravou com a Candy Sosa, com Tito Puente, fez parte da prestigiosa orquestra de Nelson Riddle e fez trilhas sonoras para filmes da MGM. Faleceu em 1999 (Los Angeles) fazendo o que mais gostava: tocando seu piano. Teria muito mais para contar, mas são coisas particulares e que iriam fazer o post maior do que já está.
Esta postagem é uma homenagem a Daniella Thompson, Candy Sosa e Jose Marino. Mauricio Levack, seu filho, talvez até em função dos acontecimentos nos USA em 2001, não me forneceu maiores informações sobre seu pai...infelizmente.
Este disco não é dos seus melhores embora eu goste muito. Nele atuam Paulinho Magalhães na batera; Waltel Branco no violão; Luiz Marinho no baixo e Pedro (Sorongo) Santos na percussão.
Ouçam a bela "O amor e a rosa" e percebam como Chaim não consegue fugir de sua veia jazzistica e entorta a música nos improvisos. Um pianista que influenciou toda uma geração de músicos, grande Chaim Levack!
Vida que segue, viagens para lá, exterior, mudanças radicais e, na volta, resolvi continuar.
Surgiu, então, em 2003, o Vinyl Maniac, que antes era um site comum e depois virou um blog, coisa que nem sonhavamos existir. As mudanças visuais foram acontecendo ao longo dos anos e me arrependo por não ter salvado os modelos anteriores, cujos comentários eram, imensa maioria, muito melhores que os posts.
Mas por que escrevo tudo isto? Porque pretendo mostrar a dificuldade que encontramos aqui para salvaguardar a memória dos nossos músicos, coisas do desmiolado e desmemoriado Brasil.
Ok, aí em cima tem um disco de um dos meus pianistas prediletos, e agora conto a minha saga para fazer esta postagem.
Quem foi Abraham Chaim Levack (Caim em portugues e Hayme em ingles)? Como chegou ao Brasil, como, em pouco tempo, se tranformou num dos mais importantes músicos atuando em território nacional? Perguntas sem respostas.
Sabia que, após reconhecidas performances em diversas casas noturnas, dentre elas a Vogue, Copacabana Palace, gravações memoráveis com Moacyr Silva, participação brilhante no disco Coisas do Moacir Santos, ser o pianista exclusivo da Radio Nacional, Chaim tinha ido para os USA, mas e aí?
Aí, em 2001, apelei para a Daniella Thompson que colocou a minha pergunta "onde anda Chaim Levack?" na lista chamada LatinJazz da qual era moderadora. Enquanto aguardava alguma resposta, numa tarde qualquer, estava ouvindo um disco do cantor americano Jackson Browne e percebi que o baterista chamava-se Mauricio Levack.
Muita coincidencia e mandei um email para o site do cantor perguntando se havia algum parentesco com o Chaim. A resposta foi: sim, era seu filho!
Opa, estava aberto o caminho. Mas nada do Mauricio me responder sobre seu pai. A Daniella, então, executou um papel fundamental: descobriu o email do Jose Marino (Zelão) baixista do Walter Wanderlei que morava nos USA e, ainda mais, o email da cantora cubana Candy Sosa que atuou com Chaim na melhor casa noturna de Los Angeles (La Macia) onde ele tocou esplendidamente, acompanhando artistas do naipe de Vic Damone, Diane Carroll, Celia Cruz, além dos conjuntos de Sérgio Mendes e Tito Puente. La Macia era a única casa noturna na cidade onde se podia ouvir música latina, coisa que Chaim adorava.
Nascido em Israel, aprendeu a tocar piano com sua mãe, atuou no Moulin Rouge, peregrinou pelo mundo e veio para o Brasil em 1955; falava fluentemente hebreu, portugues, frances, alemão, ingles e espanhol. Era um tremendo glutão e adorava jogar poquer. Tocou no já citado disco do Moacir Santos, no disco Os Cobras, em praticamente todos os discos do Moacyr Silva (também como Bob Fleming), no fantástico Quarteto Nostalgia e em todos os discos do Paulinho (baterista) e seus Night Boys. Nos USA, gravou com a Candy Sosa, com Tito Puente, fez parte da prestigiosa orquestra de Nelson Riddle e fez trilhas sonoras para filmes da MGM. Faleceu em 1999 (Los Angeles) fazendo o que mais gostava: tocando seu piano. Teria muito mais para contar, mas são coisas particulares e que iriam fazer o post maior do que já está.
Esta postagem é uma homenagem a Daniella Thompson, Candy Sosa e Jose Marino. Mauricio Levack, seu filho, talvez até em função dos acontecimentos nos USA em 2001, não me forneceu maiores informações sobre seu pai...infelizmente.
Este disco não é dos seus melhores embora eu goste muito. Nele atuam Paulinho Magalhães na batera; Waltel Branco no violão; Luiz Marinho no baixo e Pedro (Sorongo) Santos na percussão.
Ouçam a bela "O amor e a rosa" e percebam como Chaim não consegue fugir de sua veia jazzistica e entorta a música nos improvisos. Um pianista que influenciou toda uma geração de músicos, grande Chaim Levack!
Não existe a menor possibilidade de encontrar este disco no formato digital, portanto...
Aproveitem!
1. Sorongaio (Pedro Santos)
2. Autumn In Rome (Alessandro Cicognini / Paul Weston / Sammy Cahn)
3. O Amor e a Rosa (Antônio Maria / Ayres da Costa Pessoa "Pernambuco")
4. Una Aventura Mas (Oscar Kinleiner)
5. On The Street Where You Live (Alan Jay Lerner / Frederick Loewe)
6. Inferno Verde (Pedro Santos)
7. Stompin' At The Savoy (Edgar Sampson / Benny Goodman / Chick Webb)
8. Donde Estará Mi Vida (Antônio Lopes / Quiroga Segovia / Francisco Naranjo Caldera / Ignacio Roman Jimenez)
9. Bem Feliz (Garcia Júnior / Geraldo Barbosa / Lourival Perez)
10. Flamingo (Grouya / Anderson)
11. Mack The Knife (Moritat) (Kurt Weill / Bertold Brecht)
12. Sorongando Em Madrid (Pedro Santos)
Para ouvir agora: "O amor e a rosa"
Comentários
Abraços!
muito obrigado pelos comentários, espero que realmente tenham gostado! Silvestre, estou longe de casa mas chegando lá. Aí coloco o disco do "homem que fazia o Hammond falar". Grande abraço para os dois!
May I ask you to update the link to my front page (index of articles) instead of the introduction?
BTW, of course, your website has been linked to my references site.
AD
Jorge França
estas palavras vindas de um craque só me inspiram para continuar. Muito obrigado!
it´s done, thanks for add my blog. Cheers!
Estou digitalizando minha cópia deste disco e vou compartilhar algumas músicas no meu programa Acervo Origens na Rádio Nacional.
Parabéns !