Polydor LPN 2002 - 1956
Outro discaço do clarinetista Wanderley Taffo, aqui grafado como Syles, o seu primeiro LP. A bolacha contém uma impressionante riqueza de detalhes nos arranjos de Syles, nas primorosas atuações de todos os músicos, com destaques óbvios para o acordeon do surpreendente Wanderley Rizzoto, para o cavaquinho esperto do Mestre Esmê e para a impressionante guitarra de Poly, principalmente para aqueles que só o conhecem tocando guitarra havaiana. Mas, além dos citados, temos Azeitona no baixo (que uma década depois formaria no Milton Banana Trio) e do baterista Zequinha que também aparece na percussão. Todos eles músicos que atuavam em São Paulo.
Em faixas como Once a while, ou Harlem Noturno, o resultado é espetacular e o sexteto "swinga" como um verdadeiro combo de jazz. Mas seria injustiça com as outras faixas fazermos apologia apenas para estas duas, bem como seria leviandade afirmar que Syles calcou seu estilo no Benny Goodman Sextet. Inclusive porque sua sonoridade, suave, usando a clave mais grave, se assemelha mais ao clarinete de Barney Bigard. Elocubrações...
A música Minha saudade encontra aqui sua segunda gravação (a primeira está no disco de Luiz Bonfá - Continental LPP 21, de 1955) ambas, curiosamente, anteriores a gravação do próprio Donato. Neste dez polegadas, sua autoria está creditada a um tal Juan Donato (sic) e até desconfio da razão que levou Syles a desfrutar da prioridade de gravá-la em segunda mão. Donato formou no conjunto de Altamiro Carrilho que tinha Duílio Cosenza (o compositor da faixa Baiãozinho) como cavaquinista. Duílio deve tê-la ouvido e levado para Syles que, percebendo o potencial da música, não hesitou em gravá-la. São apenas suposições, mas não custa imaginar que o próprio Duílio toque cavaquinho na música de sua autoria, substituindo Esmeraldino Sales. E por que não o próprio Donato tocando acordeon na sua Minha saudade? A culpa é da Polydor, que assim como a maioria das gravadoras, fazia questão de nos deixar absolutamente às escuras com relação aos músicos que tocavam em seus discos, na minha opinião, um verdadeiro desrespeito com a memória musical do país! Os créditos para os músicos foram pinçados aqui, os outros foram deduzidos por leituras diversas. Qualquer observação à respeito agradeço muito. Escutemos, então, Brejeirice, mais um soberbo disco do soberbo Wanderley Taffo, ou Siles, ou Syles...
Aproveitem!
1. Baiãozinho (Duílio Cosenza)
2. Harlem Noturno ( Rogers / Hagen)
3. Copacabana (Alberto Ribeiro / Braguinha)
4. Once In a While (Green / Livingstone / Edwards)
5. Fazendo Hora (Esmeraldino Sales)
6. Poinciana (Simon / Bernier)
7. Minha Saudade (João Donato)
8. Over The Rainbow (Arlen / Harburg)
Para ouvir agora:
14 comentários:
Excelente postagem.. Gosto tanto desse disco que chego a ter dois!!
A qualidade sonora dos discos Polydor, à época sob o controle da Siemens Companhia de Eletricidade é fora de série quando comparada as dos lançamentos de gravadoras contemporâneos a este.
O arranjo característico dos anos 50 presentes neste disco são de profundidade e dimensão magnânimas. Vc chega a imaginar os executantes na sua cena, mesmo o disco sendo monoaural. Todos os instrumentistas estão fantásticos. Adoro ouvir o baixo acústico pesado e bem marcado, que valoriza cada nota das músicas desse disco.
Once a While remete a um elegante sarau. Vc chega a imaginar as meninas-moças de então, entrando com seus longos vestidos rendados.. A orquestra executando. Os rapazes de smoking... Enfim..
Todo o requinte e sofisticação de uma época que infelizmente não volta mais.. Parabéns pela postagem!
Obrigado pelo belo comentário Hugo!
Volatremos a falar do assunto Rádio em breve, tudo de bom e um excelente 2010!
Olá Paulo,
Queria fazer um breve comentário, mesmo atrasado, este disco do Syles foi um ótimo presente de aniversário para o pessoal que acompanha seu trabalho aqui.
Também sou fã dele.
Um grande 2010.
Um Abraço
Marcelo Farias
Ótimo que voce tenha gostado Marcelo!
Foi gratificante descobrir quem era o Siles, um músico de rara sensibilidade e inteligencia musical.
Vamos ver se descubro mais coisas dele.
Um ótimo 2010 para voce também!
Caro Vinyl Maniac, a informação do time de cobras deste disco que consta do meu blog é de mestre Colagrande, que conviveu com toda esta turma. Ele tinha uma gravação caindo aos pedaços e agora terá uma novinha. Obrigado.
Hélio
Caro Helio,
voce tem noção do quanto isto é gratificante? É por estas e outras que seguimos em frente...Mande um para o mestre e receba o meu grande abraço!
Desculpem meu "pitaco", mas o baixista desse disco fantástico do Siles era o "Shú" Vianna, pois o Azeitona nesta época ainda estava no começo da carreira, tendo começado (como eu), junto com Laércio de Freitas "Tio" (pianista fantástico), Jacy (baixista) e outros músicos, no Grêmio Juvenil Tupy, apresentado por Homero Silva na antiga Rádio Tupy,(depois TV Tupy) antes da televisão chegar ao Brasil! (anos 40 para 50) - E ainda teve a participação do Rubinho Barsotti (Zimbo Trio) na bateria. Ainda "moleques", acompanhávamos "vidrados" tudo que a turma maravilhosa de músicos do regional do Siles fazia. Era uma verdadeira escola de evolução da música popular brasileira que ficou esquecida na memória desse país "sem memória". Wanderley Rizzotto (acordeon), Duílio Cocenzza (guitarrista que poucos sabem, depois chegou a tocar e gravar com a então famosa orquestra de Stan Kenton, nos E.U.A., para onde foi nos anos 50/60), Pierre (violão), Esmeraldino Salles (o nosso "Charlie Parker" ou "Tom Jobim" do cavaquinho), Zéquinha (pandeirista excepcional) e Oswaldo Collagrande, extraordinário violonista, um "gente fina" como poucos e, segundo sei, o pioneiro do violão de sete cordas no Brasil. Todos eles, músicos extraordinários, nos fascinavam e inspiravam de uma forma que pode ser traduzida e melhor entendida na qualidade do disco memorável do Laércio de Freitas - LP de 12' "São Paulo no Balanço do Chôro" subtitulado: "Ao nosso amigo Esmê" (dedicado ao Esmeraldino). Desculpem se fui muito prolixo, mas dou os parabéns a esse trabalho maravilhoso de preservação da música "feita com notas musicais", e não apenas com "glúteos e protuberâncias femininos" como hoje acontece. Por favor, digo isso sem falso moralismo, mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, não é?! Gostaria de saber os nomes dos responsáveis por esse maravilhoso trabalho, que foi surpreendente para mim encontrar, quando procurei referências do meu amigo Siles no Google.
Sou Newton de Siqueira Campos, tenho 75 anos, fui contrabaixista e compositor (umas 30 e tantas músicas e parcerias, e mais de três centena de "jingles" gravados), e hoje me considero um músico auto aposentado, mas esperançoso que ainda possa haver um pouco de preservação do que é música brasileira de qualidade de verdade. Parabéns!
Estou no Facebok, mas por favor, identifique a origem da mensagem, pelo assunto em pauta. Abraços a todos que curtem o que é bom!
Caro Newton (compositor de mão cheia), é um prazer recebê-lo no blog, faça-o mais vezes. Xú Viana era o baixista? Todos vão agradecer esta informação. Na verdade, eu, e o amigo Hélio, que postou acima, confiamos na memória do, como voce citou, extraordinário Mestre Collagrande. Fica seu registro e devida correção. Obrigado! Laércio de Freitas, o Tio, foi pessoa da minha convivencia, faz tempo, para voce ter idéia as hoje atrizes ainda eram as "camondunguinhas", era assim que ele as chamava. Grande abraço!
Caro Vynil Maniac
Tem razão!
As "Camundongas", inclusive, mereceram do pai "Tio" uma música com esse título.
Faz tempo que não vejo o Laércio. Se o encontrar, mande-lhe meu abraço!
Só para mais um registro: - Um pouco depois dessa gravação do "Brejeirice" o Wanderley Rizzotto foi para o México sendo substituído no regional do Siles, primeiro pelo Toninho "Maluco", um acordeonista pouco lembrado mas que tocava uma barbaridade, e depois (para meu orgulho até hoje) por minha sugestão, pelo Luiz Loy, que nos anos 60/70 foi o líder do grupo que deu o suporte musical para o inesquecível programa "Dois na Bossa", com simplesmente, Ellis Regina e meu "chapão" Jair Rodrigues, grupo esse que tinha ainda os fabulosos Meirelles no saxofone tenor (depois o Mazzola) e "Papudinho" no trompete.
Nossa! Tempo bom, danado!
Ainda tive a felicidade de gravar, com meu modesto contrabaixo, o único LP do Papudinho como líder, do qual tenho uma cópia rara, que coloco à sua disposição, caso você deseje.
Mais uma vez um abraço fraterno.
Newton
Caro Newton,
me faça um favor, mande um email para - vinylmaniac1@gmail.com - pois creio que temos muito a conversar. Obrigado por mais estas informações.
Fraterno abraço!
Baixado, ouvido, listado e arquivado com carinho.
O DUILIO COSENZA (este e'o seu sobrenome correto)foi um dos maiores violonistas brasileiros. Tocava qualquer intrumento de cordas desde os 9 anos de idade. Tocou com o Frank Sinatra por 28 anos alem de Tony Mottola, Stan Kenton, Paul Winter e outros nos EUA onde se radicou. Compos musicas com a cantora Bunny Lake tambem nos EUA.
Wanderley Taffo (Siles) - clarineta
Toninhho Maluco - acordeon
Duílio Cocenzza - guitarra
Shú" Vianna - Contrabaixo
Pierre - violão
Oswaldo Collagrande - violão 7cordas
Esmeraldino Salles - cavaquinho
Zéquinha - pandeiro
Muitissimo obrigado pela postagem, estou muito emocionado com essa pérola! Q beleza de Disco! Viva Siles e seu conjunto :)
Alexandre G Peres
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