Chantecler - CMG 2363, 1965
Renato Mendes, PhD em órgão erudito, mantém um desconhecido tesouro guardado em seu apartamento na bela Rua Avanhandava em São Paulo: foi o único brasileiro a conquistar o Prêmio de Música Eletrônica Internacional no renomado Festival de Nidden com seu disco "Electronicus", em 1974. Mas isto ninguém sabe, ou pelo menos se interessou em divulgar. Divulgado está a partir de agora. Nascido em São Paulo (por questão de horas teria nascido no Rio de Janeiro) no dia 04/10/1939, Renato começou a tomar gosto pela música popular quando, na década de 60, substituiu Djalma Ferreira na boite Drink, Djalma mudou-se para os EUA. Ele e o também tecladista Juarez Santana, se revezavam na noite paulistana. A par do seu trabalho com a dita "erudita", Renato lançou seu primeiro disco pelo selo Mocambo (R. M. e seu Órgão), em 1962, lançou este aqui e, no ano seguinte, o famoso Boliche Trio que é um dos "sucessos" de downloads aqui no blog.
Vamos lá: os arranjos e o órgão (sim, o que aparece na foto de Oswaldo Micheloni é um órgão de igreja), são do Renato; a bateria está a cargo do genial Arrudinha, o trompete é do não menos genial Papudinho; Theo de Barros comparece em algumas faixas no violão e também em algumas faixas a flauta fica a cargo de Benê (Benedito Chiaradia, aluno do Renato e participante do grupo Ginga Trio). Eu não gostaria de fazer qualquer comentário sobre as faixas, deixo à cargo dos meus possíveis leitores, mas não posso me furtar a dizer que RM "faz a cama" para execuções virtuosísticas de Arrudinha e Papudinho, são sensacionais! Por fim, como curiosidade, o título da música Tuca "Mad and Mam" que, grosso modo, significa "louca porém Lady" foi feita para a cantora Tuca. A propósito, a faixa está com um ruído irritante nos primeiros segundos, não consegui "arrancar" no SoundForge. Outras curiosidades ( vou esperar ele me autorizar a escrever os pseudônimos que usou para gravar vários discos e percebam que são discos muito conhecidos, vai ser surpresa para muita gente...) e melhores detalhes da vida de mais um praticamente desconhecido grande músico brasileiro numa próxima postagem.
Não existe a menor possibilidade de encontrar este disco no formato digital, portanto...
Aproveitem!
1. Terrase
(Theo de Barros)
2. O Ganso
(Luiz Bonfá)
3. Luciana
(Tom Jobim / Vinicius de Moraes)
4. Menino das Laranjas
(Theo de Barros)
5. Coalhada
(Hermeto Pascoal)
6. Deus Brasileiro
(Marcos Valle / Paulo Sergio Valle)
7. Tuca "Mad and Mam"
(Renato Mendes)
8. O Cachorro
(Renato Mendes)
9. Sonho de Maria
(Marcos Valle / Paulo Sergio Valle)
10. Samba de Verão
(Marcos Valle / Paulo Sergio Valle)
11. Ela Vai, Ela Vem
(Roberto Menescal / Ronaldo Bôscoli)
Para ouvir agora:
Comentários
Thanks a lot for the music: can hear it in the player.
But there are some problems with downloading. Can you fix it or repost at another source?
Bossanov
Valeu!
Ah, descobri que tenho o arquivo de 'Electronicus' na minha fonoteca digital (nem me lembrava disso). Quem me passou esse arquivo na época foi o Loro (nix). Só não o postei porque não trazia o encarte completo e nem os selos. Caso tenha interesse, está na mão :)
Vou ficar aguardando as suas surpresa :)
Como disse, adoro esse seu blog :)
O Eletronicus eu tenho, grato de novo
Abraço!
Estou adorando seus blogs!!!!
dentro de algumas horas no velório do Cemitério São Paulo. Amanhã o velório abrirá às 9:00h e o sepultamento será às 11 hs.
Fui aluno do Renato Mendes (1996-98), quando em 2006 na Hebraica em são Paulo o Edson K, (nome dificil), tocando a "Vera Cruz" do 2º arranjo que o Renato fez a pedido do Edson, fiquei pasmo do talento absurdo do Renato para criar arranjos, já gostava do 1º arranjo, fiz USP, CLAM, estudei R.L que fez Berkley, nunca aprendi a "arranjar" como o Renato.
Segundo ele "Vera Cruz" foi um tapa bem dado na Yamaha, cujos arranjos eram padronizadinhos demais, ele dizia: aquele povo, só sabia tocar a "balada do peixe morto", "flash dance", "A-HA", duas caipirinhas tocavam o "melo da galinha preta" descia o santo na turma toda. Ah, ria muito com ele.
A história desse arranjo, quando ouviu "Steve Swallow", disse: esse cara entendeu a lição, e fez o arranjo sobre a mesma linha de baixo e só, o resto é dele, mandou a fita para "Swallow", com a carta, sei que você é Balança, mesmo signo meu, signo do equilibrio e justiça, sou cego, nas mãos não carrego uma bengala, mas, uma espada, simbolo da justiça, o baixista responde: esqueceu do humor afiado e bom gosto, disse nunca esperar sua linha de baixo, ser usada com tamanha propriedade num arranjo novo e tão diferente, permitia a gravação sem processos juridicos. O Renato gravou em Hammond B3, Moog e Synth sob o B3.
Veio o "FX-20" mais barato, gostou do baixo e adaptou arranjos prontos, programação Drums Pattern sequencer das mestres alunas "Maria Helena Aun Lima" e "Luiza Hayma" que tb cedeu seu FX-20.
Ele precisava mostrar para os alunos da Yamaha que aquela escola não formava músicos, tacada de mestre, após, foi professor de vários alunos da Yamaha, podia escolher alunos.
Se arrependeu amargamente por uma aluna que, estudou durante 12 anos, e publica um método dizendo que havia feito pedalização com ele. Dizia que ela se fez tocavando seus arranjos na Yamaha, passando a idéia que eram dela, ele brincava, que além de cobrar caro em dólares por cada arranjo, nunca ensinou ela a fazer arranjos. Electoners tem vida curta e não sabem construir um carreira verdadeira e honesta como a dele, que, gravou até 2013 mais de 113 discos, 14 Vinyl. Trilogia" demorou 16 anos para ficar pronta, "Théo de Barros" no violão. Quem da Yamaha fez isso, ninguém.
Havia um organista da Yamaha, que eu até gostava de ouvir, "Zago", ao ouvir a "Vera Cruz" pediu humildemente. Aquilo foi um reconhecimento, Renato e seu aluno "William Kreutzer", escrevem o arranjo completo e entregam para ele.
Na Hebraica o Edson que estudou Hammond B3, Moog, orqu., organologia e arranjo com ele por quase 20 anos, contou detalhes do Renato arranjador; se a terra de "Vera Cruz" foi avistada por "Cabral" como uma ilha, ao se aproximar aquilo crescia em um vasto continente, Renato usou o órgão de Tubos para marcar a surpresa da introdução com a magnitude dos tubos, arranjar é materializar a imaginação, da caravela observar no horizonte a archi (arco) sobre o pelagós (oceano) atlântico, archipélago, visto do mar distante, parecem arcos que emergem da água, puro grego antigo. Ou seja, música não é só música, é filosofia, ele dizia que o "Zé Rodrix" falava, ande sempre com uma caderneta e anote tudo, Beethoven tinha um livro só de rascunhos.
Já pedi para o Edson me vender o segundo arranjo de "Vera Cruz", perfeito, sem bateria tosca do FX-20, o Renato usou DDD-1 da Korg e o Edson a R10 Roland e outra que ele mesmo fez e que sampleia em sync, ele tem UNI em computação, programm, reconhece no MIDI, acordes tritonados e add sutilmente, pratos, brushes, contra-tempos, síncopas, autêntico, como baterista faz. O Renato não permitia dar ou vender, para não padronizar, senão viraria "Yamaha 2, O retrocesso".
Parte 2
O próprio Renato fechou a Yamaha do Brasil, seus alunos participavam dos concursos, mandou carta para o presid. da Yamaha "Kaichi Kawakami" que veio ao Brasil e fechou a Yamaha, o Renato presenteou Kawakami com seu disco "Some Stars" totalmente no FX-20, semanas, recebe um agradecimento do "Kawakami" com duas caixas de livros, cds, muitos deles do próprio Kawakami, que disse que o trabalho feito no FX-20 era o melhor já feito, convidou o Renato a ir ao Japão, gravar, ensinar, publicar.
Disse para mim que sou Japonês, o que eu vou fazer no meio daquela japonesada. Não queria os livros, liamos para ver os arrantos do Matsuda, Reiko Kashiwagi, Koichi etc, ele modificava em tempo real os arranjos e gritava: que burrrro, harmonia não é assim que usa, linha de baixo mal feita, tem duas pernas pra que? Japonês não sabe fazer música, eu nippon ali sentado rindo, brincava, eu e a Eliza tinha feijoada no sangue e samba no pé.
Enfim, consegui alguns livros, ele dizia ter muito inimigos para dar aqueles livros. Só gostou de um livro que o Kawakami mandou, chama-se: "From Musician for Musicians" enorme. Tem vários arranjos dele no Japão, mas,reclamava, cobrava U$500 por arranjo, os impostos do Japão, comiam tudo, então, vinha 115 dólares, aqui ganhava U$150.
Quando o Edson tocou a "Vera Cruz" na Wersi da Alemanha, o público aplaudiu em pé, aquele tal "Mark Whalle", ficou com inveja e nunca conversaram, ele disse que trocaram algumas palavras, mas, "Cláudia Hischfelld" conversava com ele na boa, deu a ela gravação da 1º versão para ela, ela deu uma fita "impressionen". Eu copiei, bem tosquera.
A partir da Alemnaha, ele transcreveu os 2 arranjos de "Vera Cruz" e mais 350 arranjos do Renato em 15 anos, alguns em albuns da Wersi.
Em 2009 cheguei à casa do Renato, estavam ambos escrevendo outros arranjos para publicar pela Leonard Publishing, naõ perguntei muito, iria atrapalhar, foi uma aula assistir. Em certo momento o Edson disse: Renato, você não acha que tá a cara da pedaleira de "Anita Salles", o Renato sentado ao seu novo "Hammond Concord" concordou e modificou, e falou: Edson você sempre foi um "saco de porquês", mas, de vez em quando consegue corrigir minhas motrizações, em seguida ele diz, "Takau" você ainda tá aí? É claro que eu estava, sem respirar ou tossir, e diz; então vai buscar uma pizza, quando vi, era 1:30 da madrugada, morri para achar a tal pizza, na frente da Avanhandava, só o Mancini, caro e eu que iria bancar, voltei as 02:15, ele disse: como demorou.
Eram dois Hammond, Renato num e Edson noutro, alternavam para ouvir um ao outro, afim de boas idéias, o Renato adorava ouvir quando outros tocavam, ouvir aqueles dois caras tocando com tanta facilidade. O Renato diz: Takau já cortou a pizza, aiii, toda vez eu tinha cortar a pizza, o Edson filósofo disse; não, vamos comer com a melhor ferramenta que nós temos: a mão! O Renato rindo disse, a melhor ferramenta, não é bem essa não... dá para imaginar quanta besteira falavam. Saudades.
Troquei e-mails com o Ed, achava que estudava música para cinema em Los Angeles, já terminou, agora trabalha e estuda em Nova York onde mora com a esposa americana.
Depois de ver o espetáculo da Hebraica, voltei as aulas com o Renato em 2007, ele ensinava arquitetura da música, nunca me ensinou "Vera Cruz", disse que era para mostrar para aquele povo, que quando pior for o órgão, melhor tem que ser o arranjador.
Poxa, Edson, te peço mais uma vez se ler isso, faz um xerox da "Vera Cruz" 2 para mim, por favor, pode até ser aquele primeiro que era mais simplex. E saiba que você é o único cara que ficou para ensinar arranjos como o Renato, o dia que voltar ao Brasil, vamos marcar umas aulas de arranjo. E manda uma cópia por e-mail vai...
Takau Matsumoto